Apollo e as Crianças Noturnas (parte II) – Além do Véu

Cecilion, personagem vampiro do jogo Mobile Legends Bang, Bang! usando a skin “The Illusionist”

Olar, cisnes! Hoje temos a tão desejada continuação final da postagem sobre Apollo e os vampiros da nossa coluna Além do Véu. Dei uma folguinha para que após o texto passado vocês pudessem levar um tempo para assimilar as coisas ali ditas para que agora vocês possam adentrar no ponto em que iremos para o coração dessa questão que trouxemos.

Na postagem de hoje vamos ver os equívocos de associar Apollo aos vampiros e a conclusão que podemos tirar disso tudo. Na parte de equívocos mostro uma versão mais resumida do mito obscuro que usam para legitimar essa conexão. Em seguida, tem uma explanação sobre entre o deus e as crianças da noite e por sim uma conclusão.

E aí, prontes para levarem mais uma mordida? Risos

EQUÍVOCOS

Bom, aqui vou hablar mesmo sobre os equívocos de associarem os vampiros a Apollo segundo um ponto de vista objetivo de estudo. Não pretendo com isso julgar quem tem uma visão diferente, afinal cada um lida com a sua prática espiritual como quiser, mas estou aqui para trazer o que de fato é embasado em sentido lógico e histórico comprovado e não gnóstico pessoal/coletivo.

Em primeira instância, podemos já afirmar que na Grécia origem desses seres vampíricos está ligada mais à deusa Hera e Hécate do que a Apollo. Sendo a lâmia uma criatura advinda de uma maldição de Hera e as empousai sendo filhas ou um séquito de seres de Hécate. Apollo nada tem a ver com esses espíritos femininos. Se formos falar dos vrykolakas, já cai por terra pelo simples fato de serem abordados numa época em que os deuses não eram mais cultuados, pois já estava em época de regime cristão.

Em segundo lugar, todas as vezes em que vi Apollo ser associado aos vampiros foi por meio de uma fonte extremamente dúbia e pouco conhecida que são “As Escrituras Misteriosas de Delfos”. Esse livro seria uma compilado de histórias de origem desconhecida, bem como seu conteúdo. Dentro do livro contém uma seção chamada “Bíblia dos Vampiros” e possui também o mito de origem dos vampiros que é o ponto onde muitos apontam Apollo como seu criador, mas não é bem assim na história. Abaixo darei um “resumo” dela, com pequenos comentários entre parênteses:

Apollo por ArcosArt

No mito temos Ambrógio, um jovem aventureiro que acaba se apaixonando por Selene (eu sei, galera… estranho, mas fica cada vez mais nóia), que era uma moça muito bela do templo, após ele encontrá-la na manhã seguinte em que recebeu a seguinte profecia da Pítia: “A maldição. A lua. O sangue correrá” (grandes palavras do oráculo, #sqn). Eles se apaixonam, mas Apollo fica enciumado (kkk) ao ver que o jovem pede Selene em casamento e ela concorda em fugir com ele. Ao pôr-do-sol Apollo surge e amaldiçoa Ambrogio dizendo que os raios de sol iriam queimar sua pele (fé pro jovem). Ele foge triste por não poder encontrar Selene como prometido e busca a proteção de Hades, que ouve sua história e diz que dará proteção em seu reino ao casal se Ambrogio trazer o arco de Ártemis a ele (se liga na furada). Hades entrega um arco e 11 flechas para Ambrogio caçar e ofertar as caças à deusa. Como parte do trato com Hades, ele deixa sua alma no submundo e vai atrás de cumprir o trato (nem vou comentar que já ele já tá lascado). Se não tivesse sucesso ficaria eternamente no Hades e sem Selene.

Ambrogio vai caçar cisnes e usa a pena e o sangue do animal para escrever um recado para Selene explicando toda a situação (a gafe aqui começa com a morte dos cisnes, né). Ele deixa o bilhete no local de encontro e vaza para não ficar exposto à luz do sol. Selene lê o bilhete, chora, mas segue com o trampo no templo para não irritar Apollo (ótima decisão). No dia seguinte, ela vai até o mesmo lugar e encontra outro bilhete com um poema de amor de Ambrogio escrito para ela (vamos lembrar que é com sangue, né… beeem romântico .-.). Ambrogio matava os cisnes, drenava o sangue, escrevia com ele e a pena, depois entregava o tributo a Ártemis (“biurifol”). Ele achava que ela poderia gostar das oferendas a ponto de convencer o irmão a retirar a maldição, caso ele não conseguisse roubar o arco dela (tolo e ingênuo, porque esqueceu que largou a alma com Hades). Na última noite de caça ele erra o tiro e chora por ter falhado, sem sangue pra sua poesia e sem oferenda pra deusa. Ártemis aparece e oferece o arco a ele que logo toma e corre para levar para Hades. Ela então percebe o que está rolando e o amaldiçoa a ser queimado pela prata. Ambrogio cai chorando de dor. Ele conta sua história, ela se comove e oferece exílio em Éfeso (os deuses estão muito de morde e assopra nessa história).

Morceguito.

Ártemis o abençoa para que Ambrogio seja o maior caçador da natureza dando força e velocidade divinas e presas para tirar sangue de animais para escrever seus poemas (olha… sinceramente, viu). Ela oferece um acordo deles apenas cultuarem a ela em seu templo, mas por ser uma deusa casta, seus seguidores jamais poderiam se tocar de nenhuma forma (OU SEJA… ACABOU TODO O LOVE QUE ELE PLANEJAVA, KKKKK… como diria a Mc Naninha “OTÁRIAAA”). E adivinhem? Ele concordou.

Selene viu o novo bilhete e correu antes de Apollo notar. Eles pegam um barco e Ambrogio com um caixão de madeira dentro do barco e ele diz a ela que só poderá abri-lo quando o sol se pôr. Eles chegaram em Éfeso e viveram numa caverna durante o dia e cultuavam Ártemis à noite no templo. Nunca se tocando ao longo dos anos. Mas Selene envelhecia e Ambrogio não. Até que ela adoece e fica por um fio de vida. Ele já sabe que nunca poderá vê-la de novo por conta da barganha safada que fez com Hades. De noite ele mata um cisne e oferece a Ártemis pedindo para tornar sua amada em imortal para eles ficarem juntos sempre. Ártemis (beeem caridosa) aparece e agradece pela devoção de anos dele. Ela faz um último acordo: que ele a tocasse só dessa vez para beber seu sangue e matá-la, assim o sangue dela fundido ao seu poderia criar novos seres imortais como Ambrogio após as vítimas provarem do sangue misturado, assim Ártemis veria que eles estariam juntos para sempre. Ele recusa de pronto e conversa com Selene que o estimula a fazer o que a deusa disse. Ele a morde no pescocito e suga seu sangue (ai ai ai, ui ui), quando deita seu corpo de novo ela está reluzindo e subindo aos céus. Ele vê ela brilhar subindo até chegar à lua para estar com Ártemis, que se acende quando ela chega lá. Assim, como uma deusa do luar, Selene toda noite pode tocar seu amado com seus raios e seus filhos – os vampiros que tinham seu sangue e de Ambrogio.

Fortune Arterial (anime, 2010)

Bom, não sei vocês, mas para mim essa história é cheia de incongruências, absurdos e bizarrices. Começando por Selene ser uma mortal e não uma deusa, Ambrogio matar cisnes que são criaturas sagradas dos Gêmeos de Leto, Hades não fazer nada com o acordo que foi quebrado, o show maldições e bençãos, um plágio ruim do mito de Selene de Endimião… enfim, muita coisa. Porém, pelo texto vemos que se fosse para creditar alguém como criadore desses seres, seria muito mais Ártemis do que Apollo ou Hades. Ou seja, outra mulher criando essa criatura.

Além dessa história totalmente suspeita e sem crédito algum de autoria, podemos dizer de um modo simples que mesmo Apollo sendo um deus que trazia a morte, a praga e tudo mais, ele era um deus da vida, qual seria o sentido dele criar um ser que é um usurpador daquilo que ele mesmo, o deus, entrega ao mundo? A parte de condenar o toque da luz do sol até dá para engolir, mas todo o resto? Não, não faz sentido lógico nenhum. E posso dizer que faz muito menos sentido Ártemis favorecer alguém que foi contra seu irmão, uma vez que eles pouco se desentendem e recorrentemente estão apoiando um ao outro.

No pseudo mito que vimos é claro que ambos os deuses, Ártemis e Apollo, deram a Ambrogio algumas das maiores fraquezas de um vampiro, o toque à prata (que por vezes é substituído por ferro) e fotofobia. É um absurdo querer associar uma criatura que representava um perigo à vida a dois deuses que prezavam pela mesma, não vamos nos esquecer que os gregos também tinham aversão à morte num geral, tentando sempre mantê-la afastada.

Para essa fic muito mal feita eu dou nota zero porque não dá para dar nota negativa. Mas dou dez no quesito falta de noção, coerência, coesão e absurdo. E eu hablei, mores.

APOLLO E VAMPIROS

Muitos poderiam querer defender que Apollo é um deus ligados aos vampiros porque estes são caçadores, belos, imortais, sedutores e por aí vai. Porém, só por compartilharem essas características não faz com que os seres noturnos tenham conexão com Apollo de forma direta e/ou real.

Lestat de Lioncourt (Tom Cruise), “Entrevista com Vampiro” (1994)

Em algum lugar da internet vi alguém relacionar epítetos do deus com uma “face vampírica” do deus. Porém, embora a pessoa tenha se esforçado para trazer sentido, o que apenas fez foi distorcer o sentido real dos epítetos para caber numa visão pessoal. Coisa que pode gerar um grande problema uma vez que com o passar do tempos as pessoas têm ficado cada vez mais preguiçosas para buscar fontes reais do que leem, estudar de verdade para se aprofundar. O que elas querem conteúdo fácil e prático, e muitas das vezes esses conteúdos quando são apenas rasos, são repletos de desinformações ou descuidado.

É importante eu dizer que não vejo problema em modernizar determinados epítetos por eles não terem mais uma aplicação idêntica a que tinha no passado, o que importa é a essência dele permanecer a mesma e para isso acontecer é preciso estudo e compreensão.

O que eu poderia dizer, como alguém que tem contato com Apollo há um bom tempo, é que o que ele aprecia nos vampiros é muito mais sua persistência, tino de caça e até o sarcasmo que é muito característico. Sei que ele gosta muito do Lestat, até comentou que eu devia ler os livros de Anne Rice e ver o filme. Ele gosta do glamour, da confiança e segurança que os vampiros possuem, mas ele sabe que todas essas coisas são máscaras que os filhos da noite usam para encobrir suas fraquezas.

CONCLUSÃO

Mesmo com algumas coisas similares, num quadro geral é um absurdo desmedido fazer uma conexão entre Apollo e vampiros se baseando em um registro totalmente incerto ou em coisas distorcidas da mitologia e história grega. Tentar justificar essa ligação como se fosse algo bom piora ainda mais a situação, pois gera uma série de adversidades que podem prejudicar o contato de alguém com o deus de forma clara e saudável.

Então, cabe a cada um ter consciência de que a necessidade do senso crítico é muito real dentro de estudos místicos, pois pode-se acabar caindo em armadilhas e desilusões que podem danificar sua jornada e fazer com que até mesmo uma pessoas se afaste da bruxaria, quando na realidade tudo o que se precisava era de uma boa instrução com fontes confiáveis e bem estudadas para que assim possa ser construída uma boa relação com a divindade e um bom caminho espiritual. O que mais tem no meio pagão é gente querendo inventar moda e pessoas inocentes caindo na ladainha e sendo bombardeadas de desinformação. Por isso, abram os olhos, agucem a intuição e desbravem o mundo com sabedoria e malícia.

E. S. H.

Referências:

AVISO: Tudo o que expressei nesse texto é uma concepção minha acerca dos temas, mas também é um espaço de aprendizado, troca e compartilhamento com amor e respeito.

DISCLAIMER: O uso de reprodução, seja parcial ou total, do conteúdo deste blog é proibida e protegida pela lei do direito autoral (nº 9610) de 19 de fevereiro de 1998. Este proíbe a reprodução ou divulgação (com fins comerciais ou não) em qualquer meio de comunicação, internet inclusa, sem o parecer e aprovação do autor.


Deixe um comentário